Fertile Future expressa o entendimento de “O Laboratório do Futuro”, tema geral proposto por Lesley Lokko para a 18.ª Exposição Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia 2023, que convoca para além de um conjunto de temas urgentes, um modo de fazer. O “Laboratório do Futuro” impele a que, também metodologicamente, se dê corpo a um programa exploratório, simultaneamente claro e complexo, assente em dinâmicas laboratoriais e colaborativas.
O título da proposta apresentada sublinha o caráter especulativo da representação da arquitetura portuguesa ambicionando contribuir para o desenho de Futuros mais justos, mais inclusivos, mais equitativos e mais diversos, mas também mais Férteis, anunciando um amanhã mais verde, imaginativo, generoso, abundante, positivo, produtivo, responsável, feminino e plural.
O programa proposto por Fertile Futures, defende a dimensão laboratorial do projeto de arquitetura em diálogo com outras áreas disciplinares, e a capacidade de se avançar procurando imaginar o futuro, reclamando o contributo do discurso multidisciplinar, no desenho de soluções para questões emergentes que tendem a ultrapassar o singular domínio da ação de arquitetas e arquitetos. Discutindo e propondo estratégias para a gestão, reserva e transformação de água doce e contribuindo para uma discussão que é comum e global, Fertile Futures problematiza a escassez e gestão deste recurso, a partir do território português.
Apostando na complementaridade estratégica entre a prática, a teoria e o ensino em arquitetura, define-se uma abordagem tripartida à experimentação e reflexão comum: sete Oficinas de Projeto, cujo trabalho é o corpo da exposição propositiva em Veneza; cinco Assembleias de Pensamento, momentos de (re)aprendizagem recíproca assente na coexistência entre saberes; e um Seminário Internacional de Verão onde estudantes ensaiam coletivamente instalações especulativas.
Oficinas de Projeto
Expandindo a existência efémera de uma representação nacional em Veneza, Fertile Futures envolverá as novas gerações no desenvolvimento de soluções para reservatórios de futuro, a partir do contacto próximo com sete hidrogeografias, exemplares da ação antropocêntrica sobre recursos hídricos, naturais e finitos.
Provocam-se jovens ateliers de arquitetura a trabalhar com especialistas de outras áreas disciplinares, a partir de laboratórios de projeto. Com base em estratégias de inovação e mediação, que procuram compreender a realidade a diferentes escalas, permite-se a imaginação comum de cenários mais positivos e também se fomentam outros modos de fazer arquitetura.
A partir do envolvimento local com as especificidades das hidrogeografias territorialmente dispersas, as soluções propositivas em desenvolvimento nas Oficinas de Projeto ambicionam promover formas de ação global, assim como a discussão de novos modos de operar à escala do território, tanto quanto na pequena na escala.
O trabalho desenvolvido pelas sete equipas de arquitetura e especialistas ocupa as sete salas expositivas do Palazzo Franchetti. No salão central, uma linha de água organiza o espaço e os seus fluxos a partir de um gesto que evoca as dimensões simbólicas e metafóricas, numa experiência sensorial e emocional.
Assembleias de Pensamento
Apoiando e ampliando o trabalho desenvolvido pelas equipas das Oficinas de Projeto, Fertile Futures conta com um grupo de consultores e consultoras, provenientes de diferentes áreas disciplinares e de uma expressiva abrangência territorial, constituindo um independente laboratório de pensamento que informa e auxilia a construção de visões arquitetónicas especulativas de justiça social, ambiental e climática, de forma ativa e participada, fomentando o desenvolvimento das práticas multidisciplinares.
As Assembleias de Pensamento, multi-situadas, entre Portugal e Veneza, permitem acompanhar, suportar e expandir toda esta experiência, complexificando e enriquecendo a abordagem temática, tanto quanto contribuindo para “traçar um caminho para o público”, envolvendo a comunidade local, portuguesa e internacional, na discussão do tema central proposto. São consultores e consultoras: Álvaro Domingues, Ana Tostões, Andres Lepik, Francisco Ferreira, Luca Astorri, Margarida Waco, Marina Otero, Patti Anahory, Pedro Gadanho e Pedro Ignacio Alonso.
Seminário Internacional de Verão
A consciencialização temática, a experiência colaborativa e o entendimento de um campo de ação expandido são partilhados no Seminário Internacional de Verão. A “deslocação temporária” de estudantes de arquitetura, provenientes de diversificados contextos, para o Fundão, tem como objetivo a partilha horizontal do saber, através da “experiência direta” e da oportunidade de estabelecer novos diálogos.
O Fundão integra a lista de oito cidades portuguesas incluídas na Missão da União Europeia para Adaptação às Alterações Climáticas. O município é um território profundamente afetado pela escassez de água e pela agricultura superintensiva, palco de incêndios e desertificação, sendo, simultaneamente, representativo de investimentos na inclusão social e vertente tecnológica em expansão pelo interior.
Com a tutoria das equipas das Oficinas de Projeto e a participação de estudantes nacionais e internacionais, selecionados por convocatória aberta e reforçada por parcerias institucionais, a intervenção materializa-se na autoconstrução de instalações espalhadas pelo território desenvolvendo estratégias para captação, fixação, fruição e/ou redistribuição da água no concelho do Fundão. O Seminário Internacional de Verão ambiciona sensibilizar as futuras gerações para modos alternativos de fazer arquitetura, favorecendo o lastro e o futuro do projeto Fertile Futures para além do tempo da exposição.
Perante questões comuns e transversais, Fertile Futures defende que um laboratório não pode apresentar resultados conhecidos à partida e, por isso, articulando com outras áreas disciplinares, defende a produção de investigações especulativas, apresentadas sob a forma da palavra e do desenho, para uma exposição que pensa um futuro fértil, sustentável e equitativo, a apresentar na 18.ª Exposição Internacional de Arquitetura — La Biennale di Venezia 2023. Em síntese, Fertile Futures reitera a capacidade transformadora de uma exposição de arquitetura, enquanto plataforma de produção de conhecimento.