Mais de metade da população mundial vive hoje em áreas urbanas e em 2050 esse número terá aumentado para 6,5 biliões de pessoas
– o correspondente a dois terços da humanidade. Com a globalização as áreas rurais tornaram-se periferias das cidades e verificamos agora que, com o envelhecimento da população, o legado dos saberes ancestrais encontra-se em perigo.
O imaginário dominante que resulta da poluição atmosférica, das alterações climáticas ou da pandemia COVID-19, imagina e concebe um mundo em que a natureza deve ser protegida da ação humana. No entanto, a condição humana não pode ser separada da natureza porque é uma parte intrínseca do mesmo metabolismo sócio-ecológico. Precisamos de imaginários que instiguem todas as gerações a pensar um planeta hoje mais habitável.
A Bienal Art(e)facts nasce da ideia de criar colaborações entre artistas, arquitetos e designers, portugueses e estrangeiros, com artesãos da região da Beira Interior. O projeto tem o intuito de cuidar a memória imaterial do território e para isso propõe repensar diálogos para a construção de um património contemporâneo de obras artísticas com enfoque na valorização da região e na reinterpretação dos saberes tradicionais.
O projeto integra o programa da Candidatura da Guarda a Região Capital Europeia da Cultura 2027 e concretiza-se numa Bienal de Conhecimento, profundamente enraizada no território e que pretende implantar uma constelação de práticas com impactos a longo prazo.
A edição inaugural de Art(e)facts introduz o tema Supernatural Togetherness (União Sobrenatural) e propõe alianças entre seres humanos, gerações, espécies e saberes para salvar o futuro.
Em curso até setembro, o programa envolveu uma convocatória internacional para projetos que resultaram, durante o mês de maio, na realização de residências artísticas em oficinas de artesãos locais. Esta exposição coletiva, localiza-se simultaneamente em seis pontos distintos da região — Alcongosta, Janeiro de Cima, Telhado, Famalicão da Serra, Gonçalo e Fundão —, enquanto o espelho de vários diálogos e dos cenários que os acolheram, pelo que o convite à sua visita sugere que se atente aos lugares que detém a memória e à experiência da imersão e da permanência.
Poderão a Arte e a Arquitetura resgatar um legado em perigo e um futuro incerto para os reescrever de um ponto de vista pós-humano?