“Na reflexão da palavra tempo a confiança na linha recta é o garante que oculta a divagação. Poderá ser na esperança pelo infinito desta linha que se encontra a trajectória da fuga e talvez seja este o elemento narrador dos problemas que lhe causam desconforto. A esta indeterminação pertence o que é verdadeiramente
do seu tempo e da sociedade que a acolhe, mas nunca numa coincidência perfeita com estes. O universo da interpretação contemporânea apresenta um laço duplo
que parte do contexto actual para logo se deslocar do anacronismo. Percebe o seu tempo, apreendo-o e torna-se inactual. Não é este o caso de um discurso sobre genialidade, porque não se trata de estar à frente do tempo. O que mantém a corrente de criação é uma ligação verbal da palavra tempo à palavra desconforto.
É extemporâneo, portanto. É aquele que está incrustado num tempo e que ao mesmo tempo o questiona. É, portanto, contemporâneo. É aquele que olha fixamente o seu tempo para dele retirar o oposto do refluxo que o impede de criar sobre forma de repetição (tempo do espaço), de paralisação (tempo de matéria), de narração (tempo da palavra) e da conservação (tempo da estória).”
Andreia Garcia